O legado cibernético da COP30

O legado cibernético da COP30

Em novembro de 2025, Belém deixará de ser apenas o portal da Amazônia para se tornar também o epicentro de uma complexa operação de segurança cibernética. A cibersegurança, normalmente tratada como um bastidor técnico, tornou-se protagonista. Não apenas para garantir o funcionamento da conferência, mas para provar a capacidade técnica do Brasil.

Megaeventos dessa natureza são alvos críticos. Para fins de referência, em Tóquio-2020, o SOC bloqueou 450 milhões de eventos maliciosos sem impacto operacional, um salto histórico de escala. Em PyeongChang-2018, o malware Olympic Destroyer derrubou sistemas na cerimônia de abertura, com técnicas de false flag que confundiram a atribuição por meses. E no G20 de 2011, uma campanha de spear-phishing comprometeu aproximadamente 150 máquinas do Ministério da Fazenda francês para exfiltrar documentos do G20. Nos Jogos de Paris-2024, a ameaça não foi só técnica: a desinformação virou instrumento de ataque. A Microsoft documentou uma campanha russa com vídeos deepfake e sites falsos para semear medo e desacreditar o evento.

O Brasil vem investindo pesado em preparar-se para esse teste. Belém virou um laboratório de segurança cibernética. O Exercício Guardião Cibernético 7.0, realizado em setembro de 2025, foi o maior treinamento de defesa cibernética do hemisfério sul. Envolveu mais de 2 mil pessoas de 160 instituições públicas e privadas, simulando ataques a sistemas de energia, transportes, comunicações e saúde, setores cuja falha teria impacto direto no evento. Esse tipo de simulação não é mera formalidade: é um reconhecimento de que, em 2025, um ataque cibernético pode ser tão disruptivo quanto um atentado físico. A COP30 será, inevitavelmente, alvo de hacktivistas, criminosos e até atores estatais que buscam vantagem política, econômica ou simbólica.

Entretanto, o histórico brasileiro em grandes eventos nos ensina que a pressa é inimiga da permanência. Nas Olimpíadas de 2016, o Brasil construiu um dos centros de comando digital mais avançados do mundo. Pouco depois, a estrutura foi desmobilizada e o conhecimento quase não aproveitado. O risco agora é repetir o ciclo: desperdiçar a oportunidade de evolução técnica.

Cibersegurança não se sustenta apenas com sensores e firewalls; depende de continuidade institucional, aprendizado acumulado e formação de profissionais. Os cursos de qualificação técnica que o Governo do Pará promoveu para servidores e estudantes são um passo na direção certa. Mas é preciso garantir que, terminada a conferência, essas pessoas tenham onde aplicar e desenvolver o que aprenderam.

A COP30 demonstrará que proteger o evento é apenas o primeiro passo. O verdadeiro legado estará em manter viva a cooperação entre instituições civis, militares e privadas, transformando conhecimento em prática contínua. A continuidade dessas ações é essencial em um mundo em que ameaças digitais podem gerar impactos tão graves quanto ataques físicos. O que for aprendido em Belém deve fortalecer uma cultura nacional de resiliência ativa e cooperação permanente.

*Por Rafael Oneda

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