Segurança cibernética e IA terão atenção redobrada em telecom, aponta estudo da EY.
A consultoria indicou os dez principais riscos deste ano que impactarão a indústria de telecom globalmente; atração e gestão de talentos ocupa a terceira posição
A indústria telco ocupa uma posição única para as mudanças tecnológicas, macroeconômicas e sociais de qualquer país. Analisar e compreender os riscos deste setor é um passo importante e de interesse coletivo de todos que compõem o ecossistema: empresas, clientes, investidores e concorrentes. Por se tratar de um universo amplo e em constante mudança, os ventos contrários, que vão desde o aumento do custo de vida até a complexidade da cadeia de abastecimento, representam uma ameaça contínua à resiliência e à estabilidade financeira dessas empresas.
O estudo da EY, Top 10 risks in telecommunications, aponta também que parte dessa resiliência está relacionada com a proteção de dados, ética e a governança das empresas de telecomunicações, alimentadas pelas ameaças à segurança cibernética e das necessidades de governança em torno da inteligência artificial generativa (GenAI). Com isso, os reguladores estão redobrando a segurança digital por causa das implicações da inteligência artificial e os clientes se tornarem uma área de foco crescente em termos de segurança, privacidade e confiança.
Os outros riscos relacionados à sustentabilidade, os modelos de negócio, a qualidade da rede e a da força de trabalho, incluindo a atração e retenção de talentos, também ocupam um lugar de destaque entre as prioridades dessa indústria. Neste estudo anual, a EY, uma das maiores empresas de consultoria e auditoria do mundo, identificou os dez principais riscos para o setor de telecomunicações em 2024:
1. Subestimar as mudanças em termos de privacidade, segurança e confiança
Olhando para o futuro, a maioria das empresas de telecomunicações acredita que a Internet das Coisas (IoT), a nuvem em escala e a inteligência artificial (IA) representarão riscos substanciais para as suas organizações do ponto de vista da segurança cibernética. Apesar do estudo da EY, CEO Outlook Pulse Survey, apontar que 79% das empresas de telecomunicações concordam que a IA é uma força para o bem, impulsionando a eficiência dos negócios e criando resultados positivos para todos, 74% acreditam que devem fazer mais para mitigar os “maus atores” da IA e prestar maior atenção às suas implicações éticas. Ainda sobre o estudo, 68% dizem que não estão fazendo o suficiente para gerenciar as consequências indesejadas da tecnologia.
“Os riscos identificados pela indústria de telecomunicações passam pelo avanço oriundo das tecnologias emergentes e da inteligência artificial, inovando processos e modelos de negócios, além de transformar a forma como o setor irá lidar com vários aspectos, como a governança e a regulamentação dos dados. Com esse prognóstico de que a segurança cibernética será um dos principais pilares, é importante acompanhar de perto essa evolução em termos de resiliência e novas políticas digitais”, diz José Ronaldo Rocha, sócio e líder de consultoria para Tecnologia, Mídia & Entretenimento e Telecomunicações (TMT) da EY para América Latina.
2. Falta de resposta das telcos ao custo de vida elevado
O estudo Decoding the Digital Home, também da EY, aponta que apenas um terço dos consumidores considera que as empresas de telecomunicações têm apoiado durante a crise do custo de vida, enquanto três quartos acreditam que os fornecedores de banda larga deveriam fazer mais para oferecer garantias de preços fixos. Os grupos etários mais velhos são mais propensos a quererem preços fixos e menos propensos a pensar que as empresas de telecomunicações têm apoiado isso. De acordo com o levantamento, 82% do grupo formado por pessoas com 66 anos ou mais acreditam que os provedores de banda larga deveriam fazer mais para oferecer garantias de preços fixos.
Embora menos de um em cada cinco consumidores irão reduzir ativamente os seus gastos com conectividade fixa e móvel, a procura por melhores ofertas em sites de comparação de preços ou recomendações de amigos e familiares aumentou de 19% em 2022 para 30% em 2023. Ainda de acordo com o estudo, 60% dos consumidores estão mais propensos a ofertas em função da crise econômica. “Isso demonstra que uma eventual promoção ou geração de valor agregado nos produtos, chamados de combos no país, podem influenciar positivamente nesta decisão”, avalia Rocha.
3. Dificuldade de retenção e atração de talentos
As pressões financeiras estão fazendo com que muitas empresas de telecomunicações reduzam os seus esforços para atrair novos talentos para o futuro. No Work Reimagined Survey, 55% dos empregadores de telecomunicações afirmam que estão pausando as contratações em resposta às pressões financeiras, quase o dobro da proporção em todos os setores (28%). Neste contexto, não é surpresa que a retenção (32%), a atração (29%) e o desenvolvimento de talentos da próxima geração (26%) estejam classificados entre os cinco principais riscos pelas empresas de telecomunicações. Com esses novos ciclos tecnológicos tanto na inteligência artificial generativa como na computação de borda, um outro desafio será o acesso à talentos digitais que se tornará cada vez mais importante para acompanhar a evolução dessa indústria.
4. Má gestão de agenda de ESG
As divulgações climáticas das empresas de telecomunicações carecem de qualidade, enquanto a complexidade interna prejudica o progresso das suas iniciativas em matéria de alterações climáticas. Outro estudo da EY, Sustainable Value Study, 2022, mostra que os executivos dessa área têm dificuldades na tomada de decisões em torno de iniciativas relativas às alterações climáticas de uma forma mais geral: 4 em cada 10 relatam dificuldade em obter a adesão das partes interessadas internas. Com uma proporção ainda maior, 57% dizem que o número de grupos envolvidos dificulta internamente o progresso e 53% dos executivos das telecomunicações concordam que a sua estratégia climática consiste em múltiplas iniciativas concorrentes, em oposição a uma abordagem unificada.
5. Incapacidade de aproveitar novos modelos de negócios
Apesar do investimento significativo para além da conectividade, serviços como a Internet das Coisas (IoT) e a segurança ainda geram apenas uma pequena proporção das receitas. Estima-se que as ofertas de Internet das Coisas (IoT), nuvem e segurança representam aproximadamente de 0,5% a 2% cada, em termos de contribuição para a receita bruta. Outra barreira ao sucesso do B2B, segundo o estudo Reimagining Industry Futures, é que as empresas de telecomunicações sofrem de uma lacuna de credibilidade como consultores digitais, apenas 22% dos clientes as consideram especialistas em transformação digital.
6. Qualidade de rede e proposta de valor inadequadas
A confiabilidade da rede continua sendo um problema para os clientes, mas eles não estão convencidos dos benefícios de uma nova infraestrutura. De acordo com a pesquisa global da EY, Decoding the Digital Home, 26% dos lares experimentaram uma ligação doméstica de banda larga não confiável “frequentemente” ou “muito frequentemente” e 29% dizem o mesmo sobre o sinal de dados móveis dentro de casa. Embora as operadoras estejam tomando medidas ativas para melhorar a velocidade e a qualidade do serviço, os clientes permanecem céticos com essas promessas, 43% acreditam que as garantias de desempenho do Wi-Fi são enganosas ou imprecisas.
7. Cultura e formas de trabalhar
Os profissionais de telecomunicações são mais propensos a preferir trabalhar remotamente e menos propensos a querer estar no local de trabalho. De acordo com o estudo da EY, Work Reimagined, 30% das pessoas que trabalham nessa indústria expressam preferência por trabalhar totalmente remoto e deslocar-se apenas quando necessário, contra 23% em todos os setores. Esta maior propensão para trabalhar remotamente afeta o desenvolvimento de competências, com o acesso à aprendizagem e às competências (47%) a emergir como o principal fator citado pelos funcionários das telecomunicações para prosperarem como trabalhadores remotos ou híbridos. Embora 43% dos funcionários de telecomunicações afirmem que a sua empresa melhorou a sua tecnologia para trabalho remoto, 34% acreditam que ainda são necessárias mudanças mais extensas.
“Se as restrições financeiras limitam a gestão de talentos, as empresas de telecomunicações devem tomar medidas para fortalecer a sua força de trabalho existente, com um foco mais profundo na aprendizagem, na melhoria de competências e em ambientes propícios para isso. Envolver-se com os funcionários de novas maneiras é importante para criar conexões mais bem-sucedidas com clientes e partes interessadas”, diz o executivo.
8. Envolvimento ineficaz com ecossistemas externos
As empresas estão mais receptivas a comprar de fornecedores de telecomunicações com conhecimento e capacidades do ecossistema. O estudo da EY, Reimagining Industry Futures 2023, revela que 71% das empresas priorizam fornecedores 5G com relações ecossistêmicas. Embora a maioria dos operadores utilize agora parcerias e ecossistemas empresariais para fornecer serviços, outro levantamento da EY, Tech Horizon, mostra que fatores como a incerteza quanto ao retorno do investimento (36%), seguida pelo apego a formas mais tradicionais de impulsionar o crescimento (25%) e pelas preocupações com a segurança cibernética (25%) ainda dificultam a sua eficácia.
9. Incapacidade de se adaptarem ao cenário regulatório em mudança
As revisões antitrust são uma causa contínua de incerteza, enquanto as abordagens iniciais dos reguladores à IA apresentam riscos de fragmentação entre jurisdições. A preocupação com os encargos de conformidade é notada na pesquisa da EY, CEO Outlook Pulse, com 61% dos líderes de telecomunicações acreditando que os riscos regulamentares terão um impacto significativo no desempenho dos seus negócios nos próximos 12 meses.
10. Falha em maximizar o valor dos ativos de infraestrutura
Os esforços das empresas de telecomunicações para libertar valor da sua infraestrutura estão ganhando ritmo e escala. A pesquisa da EY, CEO Outlook Pulse, reforça o foco contínuo em carve-outs de infraestruturas, com 41% dos CEOs de telecomunicações a buscarem cisões e ofertas públicas (IPOs) no próximo ano e 61% afirmando que procurarão formar joint ventures ou alianças estratégicas com terceiros, com o objetivo de reconfigurar os modelos de propriedade e diversos tipos de infraestrutura.
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