Fornecimento de dados biométricos preocupa 60% dos usuários de Internet brasileiros, mostra pesquisa do Cetic.br
Percepção de risco está mais associada à impressão digital e ao reconhecimento facial, revela a 2ª edição do estudo “Privacidade e proteção de dados pessoais: perspectivas de indivíduos, empresas e organizações públicas no Brasil”, lançada nesta segunda-feira (2/9)
Os brasileiros se preocupam com o fornecimento de seus dados biométricos em maiores proporções do que com outros tipos de dados pessoais sensíveis, tais como orientação sexual e cor ou raça. É o que revela a 2ª edição da pesquisa “Privacidade e proteção de dados pessoais: perspectivas de indivíduos, empresas e organizações públicas no Brasil”, lançada nesta segunda-feira (2) pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). Segundo o estudo, 32% dos usuários de Internet com 16 anos ou mais no país relataram ficar “muito preocupados” e outros 28% “preocupados” diante desse tipo de situação – juntas, as proporções alcançam 60%. Entre os usuários que mencionaram essa preocupação em fornecer dados biométricos, a percepção de risco está associada com maior frequência à impressão digital e ao reconhecimento facial, cuja soma da porcentagem de indivíduos “preocupados” e “muito preocupados” alcançou 86% e 82%, respectivamente.
O estudo também mostra que as organizações para as quais os usuários mais ficam apreensivos em fornecer dados biométricos são: instituições financeiras (37% “muito preocupados” e 36% “preocupados”), órgãos de governo (35% e 38%) e transporte público (34% e 37%).
Apresentado no 15º Seminário de Proteção à Privacidade e aos Dados Pessoais, evento organizado pelo CGI.br e pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), o levantamento reúne indicadores inéditos extraídos de pesquisas realizadas pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br/NIC.br).
“Com a ampliação do uso de sistemas baseados em reconhecimento facial e impressão digital, é compreensível que as pessoas estejam mais preocupadas em fornecer seus dados biométricos. Nesse contexto, é fundamental que empresas e o governo busquem aprimorar suas estratégias de proteção de dados pessoais e segurança da informação ao adotar este tipo de tecnologia”, analisa Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br/NIC.br.
A pesquisa aponta ainda que, em 2023, 58% dos usuários de Internet com 16 anos ou mais sempre (26%) ou quase sempre (32%) concordam com as políticas de privacidade sem ler o que elas dizem. Além disso, um quarto dos usuários de Internet (24%) procuraram algum canal de atendimento para fazer solicitações, reclamações ou denúncias relacionadas aos seus dados pessoais – a proporção foi maior entre os homens (27%) na comparação com as mulheres (22%) e entre os com Ensino Superior (29%) em relação aos com menor escolaridade (23% até Ensino Fundamental, 22% até Ensino Médio). Entre aqueles que recorreram a esse tipo de atendimento, 77% acessaram diretamente a empresa controladora ou o órgão público controlador, enquanto 69% optaram por sites de reclamação direcionados a consumidores, 51% buscaram órgãos de defesa do consumidor e 35%, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD).
Comprar por sites ou aplicativos é a atividade online que mais causa apreensão por conta do fornecimento de dados: 29% afirmaram ficar “muito preocupados” e 27%, “preocupados”. Acessar páginas e apps de bancos apareceu na sequência, com 25% “muito preocupados” e 24% “preocupados”. “Esses resultados indicam a percepção, por parte dos usuários de Internet, de um alto potencial de dano relacionado a dados de transações financeiras”, destaca Barbosa.
Empresas privadas
A maior parte dos dados pessoais mantidos pelas empresas, independentemente do tamanho, é proveniente de clientes e usuários (68%) e de parceiros e fornecedores (60%), conforme os resultados da pesquisa. Entre 2021 e 2023, a proporção de empresas que mantinham dados de biometria passou de 24% para 30%. O segundo dado pessoal sensível mais armazenado foi de saúde, indo de 24% a 26% no período analisado.
Outro ponto identificado pelo levantamento foi o avanço na proporção de organizações que realizaram alterações em contratos vigentes para adequação à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD): entre 2021 e 2023, houve crescimento de 24% para 31% nas pequenas empresas e de 61% para 67% nas de grande porte. Já os setores econômicos que, no mesmo período, mais implementaram mudanças nos contratos em função da LGPD foram os de construção (22% para 35%), transportes (38% para 42%), alojamento e alimentação (23% para 31%), informação e comunicação (57% para 66%), atividades profissionais (38% para 59%) e serviços (26% para 46%).
Dentre as ações exigidas pela LGPD, a nomeação de um encarregado de dados permaneceu estável entre 2021 (17%) e 2023 (19%), com uma menor presença entre as pequenas empresas (16%). Por sua vez, de 2021 a 2023, houve um crescimento na proporção de empresas que nomearam alguém para exercer essa função nos setores de informação e comunicação (de 22% para 39%) e de atividades profissionais (de 22% para 33%).
“A pesquisa mostra que houve avanços na conformidade com a LGPD entre as médias e grandes empresas, inclusive em diferentes setores econômicos, mas há espaço para uma maior presença de boas práticas de proteção de dados pessoais, principalmente entre os negócios de menor porte”, afirma o gerente do Cetic.br.
Organizações públicas
O estudo aponta que iniciativas relacionadas à privacidade e proteção de dados acontecem de maneira desigual entre as organizações públicas. A nomeação de encarregado de dados, por exemplo, chegou, em 2023, a 83% dos órgãos federais (estável em relação à 2021, cuja proporção era 81%) e 46% dos estaduais (aumento de 13 pontos percentuais na comparação com 2021). No âmbito municipal, essa ação foi ainda menos citada, estando presente em somente duas a cada dez prefeituras brasileiras (21%), com maiores proporções entre as de capitais (58%) e nas de cidades com mais de 500 mil habitantes (63%).
Em 2023, a disponibilização de canais de atendimento pela Internet sobre o uso de dados pessoais foi mencionada por menos da metade dos órgãos estaduais (47%) e prefeituras (42%), enquanto essa forma de atendimento estava presente em 73% dos órgãos federais. Nas administrações municipais, em 2023, foram ampliadas as disparidades de acordo com o tamanho da população: a disponibilização de canais de atendimento passou a estar mais presente nas localidades com população de 500 mil pessoas ou mais (66% em 2023 e 36% em 2021) do que nas com até 10 mil habitantes (43% em 2023 e 30% em 2021).
As disparidades em relação a medidas adotadas para privacidade e proteção de dados pessoais se repetem na área da saúde, quando analisadas as realidades de estabelecimentos públicos e privados. Em 2023, as principais diferenças estiveram na realização de campanhas de conscientização sobre a LGPD (57% das unidades de saúde privadas e 28% das públicas); implementação de um plano de resposta a incidentes de segurança de dados (44% das privadas e 17% das públicas); e disponibilização de canais de atendimento para os titulares dos dados (38% das privadas e 16% das públicas).
Esse desequilíbrio entre instituições públicas e privadas também é visto na área de Educação, como no caso de escolas de Educação Básica com documento que define a política de dados e de segurança da informação. Entre 2020 e 2023, a proporção de escolas públicas com esse documento passou de 37% para 51%. No entanto, tais proporções ainda são menores do que as de escolas particulares, nas quais o avanço na presença do documento foi de 60% para 74%.
“Promover uma cultura de proteção de dados pessoais no país pode contribuir com a disseminação da inovação e da transformação digital, ao permitir maior confiança dos usuários na adoção de novas tecnologias e no tratamento de dados realizado pelas instituições. Esse é um ponto especialmente crítico nas organizações públicas que oferecem serviços digitais à população, cuja efetividade depende da adesão dos usuários”, avalia Alexandre Barbosa.
Para conferir os indicadores da pesquisa na íntegra, acesse aqui.
Reveja também o painel de lançamento do estudo em Link.
Sobre a pesquisa
A 2ª edição da pesquisa “Privacidade e proteção de dados pessoais” reuniu dados inéditos coletados por diferentes estudos conduzidos pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) com indivíduos, empresas e organizações públicas. O Painel TIC foi realizado em dezembro de 2023 e entrevistou 2.618 pessoas de 16 anos ou mais por meio de questionário online. Já a TIC Empresas 2023 entrevistou por telefone 2.075 empresas com 10 pessoas ocupadas ou mais entre março e dezembro de 2023.
A pesquisa TIC Governo Eletrônico 2023 entrevistou por telefone 677 órgãos federais e estaduais e 4.265 prefeituras entre julho de 2023 e fevereiro de 2024. A pesquisa TIC Saúde 2023 entrevistou 4.117 gestores de estabelecimentos de saúde brasileiros entre fevereiro e julho de 2023 e foi realizada por telefone. E a pesquisa TIC Educação 2022 entrevistou, de forma presencial, 7.192 estudantes do 4º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio, 1.424 professores, 873 coordenadores pedagógicos e 959 gestores escolares entre outubro de 2022 e maio de 2023. Já os dados da edição de 2023 da TIC Educação foram coletados entre os meses de agosto de 2023 e abril de 2024, por meio de entrevistas telefônicas, com 3.004 gestores escolares.
Sobre o Cetic.br
O Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do NIC.br, é responsável pela produção de indicadores e estatísticas sobre o acesso e o uso da Internet no Brasil, divulgando análises e informações periódicas sobre o desenvolvimento da rede no País. O Cetic.br|NIC.br é, também, um Centro Regional de Estudos sob os auspícios da UNESCO, e completa 19 anos de atuação em 2024. Mais informações em Link.
Sobre o NIC.br
O Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) é uma entidade civil de direito privado e sem fins de lucro, encarregada da operação do domínio.br, bem como da distribuição de números IP e do registro de Sistemas Autônomos no País. O NIC.br implementa as decisões e projetos do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) desde 2005, e todos os recursos arrecadados provêm de suas atividades que são de natureza eminentemente privada. Conduz ações e projetos que trazem benefícios à infraestrutura da Internet no Brasil. Do NIC.br fazem parte: Registro.br, CERT.br, Ceptro.br, Cetic.br, IX.br e Ceweb.br, além de projetos como Internetsegura.br e Portal de Boas Práticas para Internet no Brasil. Abriga ainda o escritório do W3C Chapter São Paulo (Link). Mais informações em Link
Sobre o CGI.br
O Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), responsável por estabelecer diretrizes estratégicas relacionadas ao uso e desenvolvimento da Internet no Brasil, coordena e integra todas as iniciativas de serviços de Internet no País, promovendo a qualidade técnica, a inovação e a disseminação dos serviços ofertados. Com base nos princípios do multissetorialismo e transparência, o CGI.br representa um modelo de governança da Internet democrático, elogiado internacionalmente, em que todos os setores da sociedade são partícipes de forma equânime de suas decisões. Uma de suas formulações são os 10 Princípios para a Governança e Uso da Internet. Mais informações em Link.
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