Quando uma senha não basta

Quando uma senha não basta: o desafio de aplicar MFA em todos os acessos

O que faz de você quem você é? Sua aparência, suas memórias, suas escolhas, seus relacionamentos? No mundo físico, a identidade é algo profundo e multifacetado. No ambiente digital, tudo isso desaparece.

Para um computador, você não é sua história. Você é um login, uma senha, um cookie de sessão ou um código enviado ao celular. Essa é toda a prova de existência que o sistema reconhece. E se outra pessoa tiver acesso a esses mesmos fragmentos, será tratada como se fosse você.

No mundo online, a identidade não é quem você é, mas o que o sistema aceita como prova da sua existência. É justamente nesse espaço, entre quem você é e o que o sistema reconhece, que os cibercriminosos atuam. Quando conseguem se passar por você, conquistam uma brecha que permite a movimentação em ambientes protegidos e acesso a dados valiosos que alimentam toda uma economia do crime digital.

Por que o MFA é essencial

Muitas pessoas ainda acreditam que identidade digital se resume a um nome de usuário e uma senha. Isso é como trancar a porta de casa com um simples trinco. Pode manter o vento do lado de fora, mas não impede a entrada de um ladrão.

A autenticação multifator, conhecida como MFA, adiciona uma camada extra de proteção ao exigir que o usuário prove sua identidade de mais de uma forma. Esse processo torna muito mais difícil para um invasor acessar um sistema, mesmo que tenha obtido uma das credenciais.

Entendendo os fatores de autenticação

O MFA combina diferentes tipos de provas de identidade:

  • Algo que você sabe: uma senha ou um PIN.
  • Algo que você tem: um celular, um token físico ou um aplicativo autenticador.
  • Algo que você é: uma impressão digital ou reconhecimento facial.

Cada fator pode ser mais ou menos seguro. Um PIN que muda regularmente é melhor do que o mesmo código usado há anos. Uma impressão digital validada por hardware seguro é mais confiável do que um padrão de desbloqueio de tela. Da mesma forma, um token físico é mais seguro do que um código de SMS, que pode ser interceptado se o número for clonado.

Onde o MFA funciona (e onde nem tanto)

Nos smartphones, as opções de autenticação se limitam a senha, PIN ou biometria. O ideal é garantir um código forte e o uso de hardware biométrico seguro. Se o aparelho for roubado, a proteção depende do bloqueio ou apagamento remoto.

Nos computadores, o sistema operacional oferece opções básicas como senha ou autenticação biométrica. A partir daí, é possível adicionar um segundo fator, como um token físico ou aplicativo autenticador. O cenário mais seguro combina senha e segundo fator; o pior é depender apenas de uma senha fraca.

Nas redes Wi-Fi corporativas, o uso de certificados digitais é a forma mais segura, pois vincula o acesso a um dispositivo específico. Já as senhas, embora fáceis de trocar, também são fáceis de capturar em ataques de phishing. O ideal é combinar certificado e autenticação por usuário e senha.

Nos acessos via VPN, as empresas têm mais flexibilidade. É possível configurar o cliente para exigir senha, autenticação por aplicativo e até verificação da integridade do dispositivo antes da conexão. A combinação entre identidade e verificação de conformidade do dispositivo é a mais indicada, enquanto aceitar apenas senha representa o cenário mais vulnerável.

Nos aplicativos em nuvem, há ainda mais possibilidades. Com provedores de identidade adequados, é possível combinar senha, autenticação por push e token físico. O modelo mais seguro inclui senhas fortes, autenticação multifator e verificação de conformidade do dispositivo. Sem MFA, aumentam as chances de ataques de roubo de credenciais ou phishing.

O desafio do MFA em todos os lugares

Pode parecer simples ativar o MFA, mas na prática cada ambiente tem suas limitações. Celulares aceitam apenas um fator na tela de bloqueio. Computadores permitem combinações, mas exigem integração com o sistema. Certificados digitais são poderosos, porém difíceis de revogar. Aplicativos em nuvem oferecem flexibilidade, mas dependem do provedor de identidade adotado.

Por isso, as equipes de TI precisam avaliar cuidadosamente o contexto de cada login, quais fatores estão disponíveis e como agir quando for necessário redefinir ou revogar acessos comprometidos.

Reforçando a segurança do dispositivo

Antes mesmo de permitir o acesso à rede, é essencial validar o estado do dispositivo. Nos celulares, o gerenciamento pode garantir políticas de complexidade de senha, atualização de aplicativos e sistema, além de bloqueio ou limpeza remota em caso de perda.

Nos computadores, políticas de domínio e ferramentas de gerenciamento ajudam a isolar máquinas comprometidas. Em redes corporativas, soluções de controle de acesso podem validar o tráfego e impedir conexões suspeitas. Em VPNs e aplicativos em nuvem, verificações de perfil do navegador e do dispositivo são fundamentais para evitar acessos indevidos.

O próximo passo na autenticação

Os invasores sempre procurarão o elo mais fraco. Se o MFA for inconsistente, eles encontrarão brechas, seja roubando um cookie para burlar a autenticação em nuvem, seja interceptando um código por SMS.

O objetivo não é perfeição, e sim cobertura. Cada login, seja no celular, notebook, rede Wi-Fi, VPN ou aplicativo em nuvem, deve ter pelo menos duas camadas fortes de autenticação. E o time de TI precisa estar preparado para revogar e redefinir rapidamente esses fatores quando necessário.

Aplicar MFA em todos os lugares significa compreender as forças e limitações de cada fator, escolher a combinação mais robusta para cada contexto e eliminar os atalhos que os atacantes estão prontos para explorar.

Por: Dennis Brach é country manager da WatchGuard Brasil. 

Veja também:

About mindsecblog 3358 Articles
Blog patrocinado por MindSec Segurança e Tecnologia da Informação Ltda.

Be the first to comment

Deixe sua opinião!