Startup inaugura comércio de dados pessoais. Empresa especializada em monetização de dados anunciou oficialmente as suas operações no Brasil.
A Drumwave, startup que funciona como uma espécie de cartório de dados digitais, fez na quarta-feira, 31, o anúncio oficial de lançamento da sua plataforma que permite a consumidores e empresas negociarem a venda desses dados. Trata-se de uma aposta em um mercado embrionário, mas que tem potencial para movimentar globalmente US$ 1,8 trilhão no longo prazo, segundo o presidente da companhia, Fernando Teles.
Trata-se da mesma empresa que tem um “Acordo de Cooperação” com o Serpro, no qual se recusa a informar os objetivos. A estatal também se negou a informar em pedido de acesso à informação pela LAI alegando “sigilo comercial”. As operações comerciais da Drumwave no Brasil serão suportadas pela nuvem e a Inteligência artificial da IBM, uma das multinacionais que, coincidência ou não, atua no Serpro como provedora de nuvem (após o anúncio oficial desse contrato descobriu-se que ele tem o valor de R$ 40,3 milhões).
A “notícia” se espalhou pelos principais veículos de comunicação do país, sem que ninguém tenha questionado claramente como se dará esse novo modelo de negócios, praticamente inédito no mundo e como os dados de brasileiros serão adquiridos pelas empresas. Apenas dois textos feitos pelos assessores de imprensa dessas companhias enaltecem o “empoderamento” que titular dos dados terá a partir de agora, ao poder escolher para quem irá vendê-los no mercado brasileiro e mundial.
O executivo, Fernando Teles, comandou a Visa no Brasil por cinco anos e antes disso trabalhou outros dez no Itaú Unibanco, onde liderou a área de cartões. Em 2021, ele assumiu a presidência da Drumwave, fundada em 2015 em Palo Alto, na Califórnia, pelo colombiano Santiago Ortiz e pelos brasileiros Alberto Blumenstein e André Vellozo.
A startup reúne, certifica e precifica dados de consumidores detidos pelas empresas. Depois compila essa massa de informações e entrega aos consumidores (seus donos originais) por meio de uma carteira digital. Estes, por sua vez, poderão vender os dados a outras empresas interessadas por meio de agentes intermediadores.
Por exemplo: um consumidor gera muitos dados ao acessar um site ou aplicativo de loja de roupas: que tipo de produtos pesquisa, tamanho, quantas vezes compra etc. A mesma coisa se repete na relação com bancos, farmácias, academias, entre outros, gerando informações que são úteis para que outras empresas possam desenvolver ou aperfeiçoar produtos e serviços, captar tendências de mercado, realizar customizações e por aí vai.
“As pessoas vão passar a pedir esses dados porque vão saber que isso tem valor”, argumenta Teles, em entrevista coletiva à imprensa. Ele reconhece, entretanto, que será preciso estimular as partes a iniciarem esse tipo de prática, que não acontece hoje em dia. “Tem que haver uma mudança de cultura. Esse é um mercado que ainda não existe”, diz.
O serviço passará a funcionar comercialmente no fim deste ano no Brasil e a partir do ano que vem nos Estados Unidos. A escolha pelo Brasil para a largada se deu pelo tamanho da economia local e pelo gosto da população por novas tecnologias, segundo Teles. “Depois nós vamos escalar o negócio”. Também há previsão na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) de que as pessoas são as verdadeiras donas dos dados.
A carteira digital da Drumwave aparecerá dentro de aplicativos de companhias que tenham uma quantidade relevante de clientes, de modo a massificar os conteúdos, tais como empresas de telecomunicações e bancos, por exemplo.
A Drumwave ficará com uma comissão do valor dos dados vendidos pelos clientes no mercado. Teles diz que haverá cerca de seis empresas trabalhando inicialmente como intermediadores nesse mercado, conectando os consumidores donos dos dados a ofertas de empresas interessadas.
IBM
A IBM faz parte do negócio como fornecedora da tecnologia para acesso e armazenamento de dados. Ela não participa na negociação ou monetização. “Tudo isso vai rodar na nuvem da IBM, que garante a integridade desse processo”, fala o vice-presidente de Dados e Inteligência Artificial da IBM na América Latina, Joaquim Campos.
No texto da IBM, a DrumWave é apresentada ao futuro consumidor como a empresa que fará com ele esteja “no controle de seus dados”. A multinacional informa que não comercializará os dados e não terá comissão pela monetização que será feita pela DrumWave.
“Hospedada na IBM Cloud, a dWallet® adota uma abordagem flexível de nuvem híbrida para conectar e acessar dados on-premise ou em várias nuvens e alavanca o IBM Cloud Pak for Data. Isso simplifica o acesso aos dados do cliente, descobrindo e organizando-os automaticamente para fornecer ofertas acionáveis aos usuários, enquanto automatiza a aplicação de políticas para proteger seu uso. Além disso, o IBM Watson Knowledge Catalog no IBM Cloud Pak for Data on IBM Cloud foi implementado para catalogação de dados e criação de perfil para a DrumWave gerenciar as diversas fontes de dados em um só lugar”, informa.
Levando em conta que todo o mercado que guarda dados de brasileiros na plataforma de sua nuvem (IBM/Watson), deverá ser assediada para fechar acordos com a parceira do Vale do Silício, que poderá gerar até uma transferência internacional dessas informações. Quem sabe até mesmo o Serpro estará envolvido nisso, já que a estatal se recusou a informar claramente o acordo que assinou até dezembro com a DrumWave.
No comunicado da IBM, fica claro que a DrumWave irá negociar no Brasil os dados de brasileiros. O que não está muito claro é como eles serão obtidos. Supõe-se que será por iniciativa dos próprios brasileiros após conhecerem melhor o “produto”, tarefa para o Marketing da DrumWave.
Mas a IBM deu uma pista sobre como será essa operação e há sérios indícios de que, além da cessão das informações de consumidores transferidas por diversos setores da economia interessados em remunerar e fidelizar seus clientes, as bases de dados federais hospedadas no Serpro poderão ser usadas também para criar um perfil de cada consumidor a ser atacado, nesse “assédio comercial” informado pela IBM. Da mesma forma que a DrumWave pode entrar no banco de dados de uma instituição financeira para buscar e estabelecer um perfil, não está descartado que ela acesse as informações armazenadas pelo Serpro para reforçar validar esse mesmo perfil.
“Todas as informações alimentadas na plataforma podem ser disponibilizadas a empresas de diversos setores, como varejo, financeiro, telecomunicações, saúde, indústria, entre outros, dando ao usuário o poder de centralizar em um só local os seus dados coletados por diferentes tipos de serviços digitais. Com isso, é possível decidir se e como licencia o acesso aos seus dados com terceiros ao aceitar uma oferta postada na sua dWallet. Ele pode monetizar seus dados de diferentes formas – receber uma compensação financeira na forma de cash ou descontos, investir seus dados e também comprar pagando com dados”, explicou a IBM.
O Serpro pode até negar que vá transferir dados de brasileiros para a DrumWave, pode até alegar que atuará apenas como o seu serviço de validação das informações dos futuros assinantes da dWallet®. Porém não pode negar que essa comercialização de dados pessoais, no qual, está sendo prometido aos consumidores algum ganho, nasceu dentro do Ministério da Economia, um interessado direto no assunto, após a realização de diversas reuniões em que participaram as principais autoridades da área de Governo Digital, a direção da estatal, da DrumWave e da IBM.
Ao todo foram realizadas pelo Ministério da Economia nove reuniões ocorridas entre 1º de fevereiro e 25 de julho deste ano. Essas “reuniões preliminares”, que ocorreram por meio de videoconferência, movimentaram as agendas de pelo menos 34 autoridades do governo e executivos da iniciativa privada – segundo informou o blog Capital Digital na sua edição do dia 29 de julho deste ano.
A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) não se posicionou sobre o assunto e se este comercio afeta ou não os termos da LGPD.
Fonte: InfoMoney & Capital Digital
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