Seu robô aspirador pode ser a porta de entrada para um ataque milionário
Dispositivos IoT domésticos comprometidos já são usados em ataques cibernéticos contra empresas e infraestruturas críticas
O que parece ser apenas mais um eletrodoméstico moderno — como um robô aspirador, uma câmera de segurança ou uma smart TV — pode, na prática, ser o elo mais fraco de uma rede corporativa. Dispositivos IoT (Internet das Coisas) conectados à internet, quando mal configurados ou desatualizados, têm se tornado alvos fáceis para cibercriminosos. E o risco não é só individual: equipamentos domésticos estão sendo usados como pontes para ataques em larga escala, incluindo vazamento de dados e prejuízos milionários por ataques DDoS (negação de serviço distribuído).
Na lista de dispositivos potencialmente vulneráveis estão itens comuns do dia a dia, como roteadores Wi-Fi, impressoras, robôs aspiradores, babás eletrônicas, lâmpadas inteligentes, máquinas de lavar conectadas, assistentes de voz, câmeras de vigilância e televisores com acesso a aplicativos. A expansão da chamada “casa conectada” cria uma superfície de ataque ampla, muitas vezes ignorada por usuários e também por equipes de TI de pequenas empresas.
“A verdade é que, infelizmente, qualquer dispositivo conectado diretamente à Internet pode ser usado de forma maliciosa quando boas práticas de segurança não são adotadas. Hoje muitos dispositivos oferecem funcionalidades inteligentes que permitem acesso ou monitoramento remoto, e para isso exigem conexão à Internet. Até mesmo aplicativos nos nossos próprios celulares podem ser usados para esse tipo de fim”, conta Matheus Castanho, Tech Lead da Huge Networks.
Risco vai além do usuário doméstico
O avanço do trabalho remoto e dos modelos híbridos agrava esse cenário. Ao utilizarem dispositivos pessoais ou redes domésticas para acessar ambientes corporativos, colaboradores podem, sem saber, expor dados sensíveis e sistemas internos a dispositivos comprometidos. Em muitos casos, o tráfego malicioso passa despercebido por soluções tradicionais de segurança, que não têm visibilidade sobre os dispositivos da casa do colaborador. Por isso, importa que a empresa tenha padrões de segurança digital pensados para o contexto e possa apoiar o funcionário na manutenção e segurança da rede.
Segundo o Tech Lead da Huge Networks, uma vulnerabilidade em um único dispositivo pode ser suficiente para que criminosos acessem redes inteiras. “Dispositivos comprometidos dentro de residências ou escritórios podem ser usados como porta de entrada para ataques a empresas conectadas na mesma rede ou até como parte de uma botnet usada para derrubar sites e sistemas corporativos”, afirma o especialista.
Ataques recentes demonstraram o potencial destrutivo desse tipo de estratégia. Em 2024, roteadores TP-Link e ASUS foram utilizados em ataques massivos contra servidores globais. Impressoras, câmeras IPTV e até aparelhos de fax também foram explorados em ataques de amplificação por SSDP (Simple Service Discovery Protocol), gerando volumes de tráfego que ultrapassam a capacidade de resposta de muitas infraestruturas digitais.
“Esse tipo de ataque demonstra como até mesmo funções consideradas banais, como impressão, podem ser transformadas em vetores eficientes de negação de serviço. O uso de técnicas de amplificação via protocolos como o IPP (Internet Printing Protocol) permite que um pequeno esforço do atacante gere impactos desproporcionais, afetando tanto o alvo quanto o servidor intermediário”, destaca Matheus Castanho.
Falhas comuns tornam equipamentos vulneráveis
Entre os principais pontos de falha estão: o uso de senhas padrão ou fracas, como “admin/admin” ou “123456” -, esta última sendo a mais usada no mundo, segundo levantamento da NordPass com a NordStellar, com 3 milhões de uso e vazamentos; a ausência de atualizações periódicas, que mantém os dispositivos expostos a falhas já conhecidas; a utilização de protocolos de segurança obsoletos, como versões antigas do TLS (Transport Layer Security); e a exposição de serviços ou portas abertas à internet, muitas vezes sem autenticação adequada.
Em redes usadas para fins corporativos, o uso de dispositivos IoT exige cuidados redobrados. É essencial implementar segmentação de rede, aplicar regras de firewall que limitem conexões de entrada e saída e evitar o uso de equipamentos que não tenham suporte ativo dos fabricantes. A adoção de sistemas de detecção de intrusão e de ferramentas de monitoramento contínuo também contribui para identificar padrões anômalos de tráfego, permitindo respostas rápidas a tentativas de invasão ou movimentações laterais.
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