Segurança, resiliência e qualidade: O tripé da IA moderna
Vivemos um paradoxo fascinante no mercado corporativo atual. Existe uma corrida do ouro digital em que todos buscam a Inteligência Artificial, mas poucos confiam verdadeiramente nos resultados que ela entrega. É a contradição perfeita daquele velho ditado: todos querem ir para o céu, mas ninguém quer morrer.
Na minha experiência conversando com líderes de tecnologia dos mais diversos setores, vejo que as empresas querem tirar vantagem dos benefícios revolucionários da IA, mas poucas estão realmente dispostas a enfrentar os riscos e o trabalho árduo da preparação que um projeto sério exige.
E, essa falta de confiança não é abstrata. Ela está diretamente relacionada à ausência de governança, segurança e de uma estrutura resiliente, levando a decisões enviesadas e interrupções críticas.
A pesquisa Estado Global da Infraestrutura de Dados 2024, realizada aqui pela Hitachi Vantara, quantifica essa contradição. Enquanto 100% das organizações ouvidas já usam IA em alguma área e projetam um aumento massivo de 226% nesses investimentos, a fundação em que essa tecnologia é erguida se revela frágil. O estudo mostra que 76% dos dados dessas empresas não são estruturados, o que contribui diretamente para que 42% sofram os resultados de baixa precisão.
A raiz da desconfiança digital
Desde a explosão das LLMs (Large Language Models), percebo que o entusiasmo com a IA Generativa muitas vezes mascara uma crise profunda. Existe um medo real de que, ao adotar soluções de mercado e alimentar grandes modelos públicos com informações sigilosas, as corporações estejam entregando seus ativos mais valiosos (aqueles que sempre protegeram com inúmeras camadas de segurança) de “mão beijada” para terceiros treinarem seus modelos. Não é por acaso que 73% dos líderes temem que hackers tenham vantagem nesse novo cenário.
O ponto central que defendo é que a confiança na IA não nasce do algoritmo, por mais moderno que ele seja. Ela nasce dos dados e da estrutura que os sustenta. E dados confiáveis não são uma commodity que se compra pronta, mas um ativo que se constrói com disciplina, cuidado e processos.
O tripé da infraestrutura
Para que a tecnologia deixe de ser apenas uma aposta de alto risco, precisamos garantir um tripé inegociável na infraestrutura: segurança, resiliência e qualidade.
Quando falo de segurança, refiro-me à proteção da informação em todas as camadas, do armazenamento à análise, garantindo que o dado esteja blindado contra acessos indevidos. A resiliência é a capacidade da empresa continuar operando mesmo diante de falhas, ataques cibernéticos ou picos inesperados de demanda – algo crítico, pois a IA traz desafios do ponto de vista de performance e consumo energético. Por fim, a qualidade significa ter dados íntegros, rastreáveis e disponíveis exatamente no momento necessário.
Sem esse tripé, não existe ponto de partida viável. É como tentar fazer um bolo sem os ingredientes básicos: você pode ter a melhor cobertura, mas sem farinha e ovos, não há massa. Tenho observado que a grande maioria dos projetos de IA não falham por erro de código, mas sim pela má qualidade ou indisponibilidade dos dados que os sustentam.
Acredito também que o futuro será híbrido. Assim como aconteceu com a nuvem, não haverá uma única IA para todas as soluções. Dependendo do caso de uso, do compliance ou da aplicação de negócio, diferentes nuvens e modelos serão acionados. Ainda estamos tateando esse caminho, em um processo de maturação que trará dores.
Justamente por essa diversidade de caminhos, a constante deve ser a robustez da base. Antes de perguntar “qual IA é a mais rápida?”, os líderes deveriam questionar “qual é a mais confiável?”. A IA é inevitável, mas a confiança não pode ser opcional. Construir esse tripé de qualidade, segurança e resiliência não é apenas uma tarefa técnica, mas sim um compromisso de negócio que definirá quem liderará a próxima década.
Por: Pedro Diógenes, Gerente Sênior de Consultoria de Pré-Vendas na Hitachi Vantara
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