Credenciais vazadas: o risco silencioso que redefine a agenda de segurança das empresas
Em 2025, poucas ameaças corporativas avançaram tão rapidamente, e com efeitos tão profundos, quanto o vazamento de credenciais. Em um ambiente de negócios cada vez mais digitalizado, a identidade se tornou o novo perímetro da segurança. Usuários, funcionários, parceiros e até máquinas passam a depender de combinações simples de nome de usuário e senha para acessar operações críticas. Quando essas chaves caem nas mãos erradas, o impacto deixa de ser tecnológico e passa a ser estratégico: paralisa operações, afeta receita, compromete dados e desgasta a confiança do mercado.
O fenômeno não é novo, mas ganhou escala. A aceleração do trabalho remoto e híbrido ampliou a superfície de ataque, assim como a adoção de serviços em nuvem e a crescente dependência de cadeias digitais complexas. Cada nova integração cria uma oportunidade adicional para cibercriminosos explorarem brechas. E eles evoluíram: abandonaram a força bruta em favor de táticas mais inteligentes (até com uso de IA), como exploração de falhas em terceiros, campanhas de phishing altamente persuasivas e compra de dados prontos para uso na dark web. O resultado é um ciclo de exposição que pressiona empresas de todos os portes.
Números de pesquisa recente deixam claro que o risco já é estrutural. Um levantamento mostra aumento de 160% na exposição de credenciais nos primeiros meses de 2025 no mundo, na comparação com o mesmo período de 2024. O dado dá dimensão do problema, mas não a profundidade: credenciais roubadas foram responsáveis por 22% das violações de dados em 2024, consolidando-se como um dos vetores preferidos dos atacantes. E há um segundo fator que agrava o cenário: 62% das ameaças detectadas não usaram malware, mas ferramentas legítimas e credenciais válidas, ou seja, um desafio enorme para equipes que ainda dependem exclusivamente de alertas tradicionais.
O problema ganha contornos ainda mais sensíveis quando se observa os dispositivos conectados. Nada menos que 46% dos equipamentos associados a credenciais corporativas vazadas não têm qualquer ferramenta de segurança ou monitoramento, o que amplia a vulnerabilidade das empresas, especialmente em ambientes onde dispositivos pessoais se misturam com tarefas profissionais.
O Brasil aparece com destaque nesse mapa de risco: 7,64% das ocorrências globais de credenciais vazadas em 2025 tiveram origem no país. A combinação entre elevada digitalização, baixo nível de conscientização e intensa atividade econômica cria um terreno fértil para esse tipo de ataque. Em outras palavras, a ameaça é real, crescente e, para muitos setores, subestimada.
Diante desse cenário, não há solução única ou mágica. A resposta precisa ser construída em camadas, combinando políticas claras, tecnologia adequada e disciplina operacional. Essa agenda passa por ações simples, como políticas sólidas de criação e manutenção de senhas, e por medidas estruturantes, como autenticação de múltiplos fatores, métodos sem senha, análise de risco em tempo real e controle rigoroso dos acessos. A lógica é pragmática: limitar privilégios, reduzir pontos de falha, monitorar desvios e dificultar ao máximo a ação de quem tenta se infiltrar.
Também é essencial rever a forma como acessos são concedidos. Permissões devem ser mínimas, temporárias e proporcionais às funções desempenhadas. Modelos mais modernos, como acesso sob demanda (just-in-time), reduzem o tempo em que uma conta privilegiada permanece ativa e, portanto, o tempo em que pode ser explorada. Atrelado a isso, mecanismos centralizados de autenticação permitem diminuir o número de senhas em circulação e aumentar a visibilidade sobre quem acessa o quê.
A mensagem central é direta: credenciais vazadas não são um incidente pontual, mas um risco contínuo ao negócio. Empresas que tratam esse tema como prioridade fortalecem sua resiliência e reduzem significativamente o potencial de impacto financeiro e reputacional. As que seguem ignorando ou adiando essa agenda continuam expostas ao mesmo ponto frágil que, hoje, alimenta uma cadeia global de ataques cada vez mais rápida e sofisticada.
Em um ambiente competitivo no qual disponibilidade, confiança e continuidade operacional são ativos estratégicos, proteger identidades deixou de ser apenas um tópico técnico. É uma decisão de gestão e de urgência corporativa. Quem se antecipa, ganha fôlego. Quem adia, abre a porta.
Por: Fernando de Falchi, gerente de Engenharia de Segurança da Check Point Software Brasil
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