BRUMADINHO: QUEM SÃO OS CULPADOS?

BRUMADINHO: QUEM SÃO OS CULPADOS? Enquanto nós paulistanos estávamos comemorando o 465⁰ aniversário da cidade de São Paulo mais uma barragem em Minas Gerais rompia com, até o momento: 65 mortes confirmadas e 300 desaparecidos aproximadamente; graves danos ao meio ambiente, fauna, flora e o rastro de destruição continua se deslocando com a expectativa de chegar à usina de 3 Marias entre os dias 9 e 12 de fevereiro.

Com a lembrança do rompimento da barragem de Mariana ainda na nossa lembrança é conveniente lembrarmos que estes não são os únicos dois casos de rompimento de barragens.

Histórico:

  • Itabirito – 1986 – Barragem de Fernadinho;
  • Nova Lima – 2001 _ Barragem de Macacos;
  • Cataguases – 2003 – Barragem de Cataguases;
  • Alagoa Nova – 2004 – Barragem de Camará;
  • Miraí – 2007 – Barragem do Rio Pomba/Cataguases;
  • Vilhena – 2008 – Barragem de Apertadinho;
  • Cocal e Buriti dos Lopes – Barragem de Algodões;
  • Itabirito – 2014 – Barragem de Herculano;
  • Laranjal do Jari – 2014 – Barragem de Santo Antônio;
  • E finalmente Mariana – 2015 – Barragens do Fundão e Santarém.

Em todos estes eventos anteriores os responsáveis já foram devidamente identificados e responsabilizados?   Até onde pudemos apurar não.   Mariana, o mais recente antes de Brumadinho, ainda se arrasta nos inúmeros meandros jurídicos nas esferas federais, estaduais, municipais, agências reguladoras e participações societárias.

E, infelizmente, ao que tudo indica e espero que eu esteja muito errado, Brumadinho segue o mesmo caminho.   Ingerência do governo federal na administração da Vale via fundos de pensão, omissão dos órgãos estaduais, negligência do poder legislativo mineiro, jogo de empurra-empurra das responsabilidades … conhecemos esta história de longa data.   E, assim como em todas as nossas tragédias, exigimos de imediato que os responsáveis sejam rigorosamente punidos.

Mas porque, infelizmente, no Brasil é assim?

Desenvolvemos ao longo da nossa história uma intrincada e complexa rede de diluição de responsabilidades de forma que, quando precisamos apurar uma responsabilidade, é sempre muito difícil ou então, a quantidade de participantes envolvidos direta ou indiretamente é tão grande, que fica praticamente inviável apurar as responsabilidades.   E, quando caímos na esfera jurídica temos uma quantidade de instâncias e recursos praticamente sem fim, privilegiando os que tem os recursos financeiros necessários.

Nos projetos em que participo como consultor líder da STROHL Brasil identificamos, com certa frequência, sérios problemas na prevenção de riscos.   Por exemplo, nos exercícios de abandono do local de trabalho.   Esta prática ficou muito em evidência depois dos graves incêndios nos edifícios Andraus e Joelma em São Paulo e, como tudo no Brasil, foi caindo no desuso.   Num modelo evolutivo PDCA depois de tantos anos, tantos exercícios, deveríamos estar num nível preparatório beirando a excelência e o que encontramos, muitas vezes, são brigadas em formação, rotas de fuga obstruídas, necessidade de programas de conscientização, executivos que não participam dos exercícios nem autorizam suas equipes a participarem …   Certa vez em uma reunião em um cliente o alarme de incêndio disparou.   Imediatamente peguei meus pequenos pertences, me levantei e já ia me dirigindo para a saída de emergência quando uma pessoa disse: “fique tranquilo, é um alarme falso”.   Conhecendo como os sistemas de alarme de incêndio funcionam, posso afirmar que há sérios problemas de manutenção deste sistema a ponto das pessoas já assumirem que todo alarme é falso.   Com certeza há um responsável por isso.   Quem é ele?   Porque não resolveu o problema?   Quem assumiu o risco?   Mantidas as proporções é a mesma cadeia de (ir)responsabilidades de Brumadinho, Mariana …

Então, afinal, quem são os culpados?

Infelizmente somos todos nós.   Somos todos corresponsáveis ao tolerarmos ou mesmo cometermos pequenas irresponsabilidades, por assumirmos riscos que muitas vezes não foram adequadamente dimensionados, por tolerarmos práticas comerciais e técnicas não éticas, tráfico de influências, subornos, o por fora, o te devo um favorzinho …

Brumadinho, Mariana e demais são os reflexos de uma sociedade doente, onde o indivíduo prevalece ao coletivo – a Lei de Gerson – onde o planejamento e prevenção são orgulhosamente substituídos pelo “Jeitinho Brasileiro”, onde tentar fazer o certo é errado.

Temos um longo caminho pela frente até começarmos a mudar esta cultura e até lá novas Brumadinhos, Marianas, Boate Kiss continuarão ocorrendo, vamos chorar nossos mortos e exigir a punição dos responsáveis.

por: Sidney R. Modenesi, MBCI – Entusiasta em sociedades resilientes e consultor líder e sócio fundador da STROHL Brasil

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